Então... aí a
professora disse: “Escrevam sobre a experiência de ter um blog...” Aí, eu pensei... vai ser difícil pra mim... um grande desafio na verdade. Pois...bom, já fui blogueira, tenho ainda uns
blogs aê, mas sabe como é: sem compromisso. Digamos que eu não tenha um blog:
eu “fico” com um blog. Porque entre eu e meus blogs não há uma relação de
compromisso de nenhum tipo, não há rotina ou disciplina – escrevo quando dá
vontade, quando bate a inspiração. E, creio eu, que este seja um dos erros mais
comuns de quem quer ter qualquer tipo de site: TEM que haver disciplina! Eu, obviamente, não fujo à regra... sempre cometi o erro comum de quem nunca pensou que isso poderia ir além... que um dia minha própria professora me traria um desafio como esse... mas estou animada. Será que de "ficantes" eu e meu blog passaremos a "namorados"?
É impressionante
como a gente se “adestra” pra tanta coisa: escovar os dentes pela manhã, sair
de casa todos os dias no mesmo horário, tomar banho antes de dormir,
cumprimentar os vizinhos no elevador, perguntar o bom e velho “how are you?”
para os alunos antes de qualquer prova oral (semana de provas, estou com isso
na cabeça...) Mas manter um blog (uma
espécie de diário na internet) não é tão
simples assim: blogar não é um verbo que se aprende na escola (infelizmente) ou
em casa, não é algo que uma mãe pense em ensinar a seus filhos, em transmitir para as futuras gerações: “Filho, enquanto
você viver, escreva. Escreva sobre seu dia, sobre algo do seu trabalho, sobre
um livro que está lendo, mas, simplesmente escreva. Sim, pois a escrita nos
alivia a alma.” Já dizia Georges Perros:
“Escrevemos por que ninguém nos ouve.” Será? E se a escrita é o idioma dos
solitários, o que será que diria Perros ao ouvir falar de blogs: milhares de pessoas
compartilhando publicamente tudo a respeito do que sentem, falam, ouvem...
Sozinhos em nosso mundo de pensamentos publicamos na esperança de sermos ouvidos.
Quem será que pensou nisso um dia? Algum afeito de Anne Frank, que, afinal teve
seu diário publicado? Ou de Franz Kafka, que escrevia maravilhosamente mas enquanto
vivo nunca se deixou “ler”? Quem imaginou que nas páginas dos diários de
milhares de pessoas poderia haver algo que, de fato, valesse à pena ler? E não
é que vale?!:)
Aí faltava
a inspiração... sim, pois no meu caso, minha inspiração é como um músculo
frouxo – precisa de estímulo, de exercício frequente. TEM que haver frequência! Ou o músculo da inspiração
desacostuma, amolece... Veio o domingo (pra que servem os domingos senão para
aniquilar todos os meus impulsos criativos?), a segunda, e a terça. Até que um
amigo de infância resolve postar algo no blog dele, e eu leio. No post ele
falava da adolescência (que compartilhamos), das mudanças na vida, do
afastamento dos amigos... Eu sabia exatamente o que ele queria dizer, conheço-o
há anos, recentemente nos reencontramos e nos maravilhamos ao reparar que temos
hoje vidas tão diferentes e questões tão semelhantes... Um simples, porêm
autêntico post de um amigo querido era justamente do que eu precisava. A
mensagem de Erick era relevante, verdadeira, única por que se trata da
experiência DELE, e nunca existirá outra igual. Um blog, na minha opinião, TEM
que ser autêntico e verdadeiro, tem que trazer o ponto de vista de quem
escreve. Quem faz blog tentando copiar o estilo de alguém, ou a experiência de
alguém, dificilmente vai encontrar a inspiração e a motivação para escrever,
assim como também terá grandes chances de não dizer nada novo para seu público.
Mais do que a voz dos solitários, um blog e seu autor estão para a descoberta como
as antigas caravelas de Pedro Álvares estão para o descobrimento. NÃO PODE TER
medo de errar.
Mas, o que
mais gosto mesmo nessa coisa toda de blog é da experiência da escrita aliada à
reflexão. Existe algo neste solitário exercício de introspecção que me renova,
me acalma e nutre: a escrita me faz ponderar, esquecer, lembrar, analisar,
criticar... ei, será que já não ouvimos isso em algum lugar?
“Não há nada pior que um texto morto dentro da gente.
Enquanto seus restos se perdem pelo nosso sangue,
sua alma fica vagando dentro de nós,
em busca de repouso.
A mente de quem não escreve é um purgatório de textos falidos.
Ali eles arrastam suas correntes enquanto dormimos,
e nos visitam com imagens de pavor.
Textos inacabados são palavras rancorosas,
amarguradas, estéreis.”
Enquanto seus restos se perdem pelo nosso sangue,
sua alma fica vagando dentro de nós,
em busca de repouso.
A mente de quem não escreve é um purgatório de textos falidos.
Ali eles arrastam suas correntes enquanto dormimos,
e nos visitam com imagens de pavor.
Textos inacabados são palavras rancorosas,
amarguradas, estéreis.”
Maria do Carmo Xavier,
2004
(sim, foi escrito por mim mesma, mó tempão atrás, em minhas aventuras com a escrita, no meu primeiro blog...)